dona de casa

28/11/2009 10:27

Larguei a prostituição e hoje sou mãe de família

Encontrei o grande amor da minha vida numa boate, engravidei, construí uma família e me tornei uma dona de casa feliz e dedicada

Dona da história: Letícia Ribeiro da Silva, 22 anos, dona de casa, Salvador, BA
Reportagem: Ricardo Régener

 

Ele me levou pro quarto, me jogou na cama e me despiu como se estivesse rasgando uma roupa velha, sem nenhum cuidado. Eu pedia pra ir com calma, mas ele logo dizia: ''Não reclama que eu estou pagando!''. Era um sexo doloroso e violento. Foi assim a minha primeira noite de prostituição: como um estupro.

Revivi essa cena quase todos os dias. Ficava apavorada, me sentia um objeto qualquer quando tinha o meu corpo violado por homens brutos e asquerosos.

Tinha medo de morrer em serviço. Uma vez, um cliente ficou tão enfurecido que jogou o carro contra mim. Não me acertou por pouco. Outro quis enfiar a mão dentro da minha garganta porque eu me recusei a transar sem camisinha.

Mas naquela época me vi sem opção: eu precisava muito do dinheiro e não queria voltar pra casa, pois estava brigada com o meu pai. Cheguei a trabalhar como garçonete ganhando R$ 15 por noite, o suficiente para não passar fome, mas acabei voltando às ruas.

Consegui R$ 400 no meu primeiro programa, nunca tinha visto tanto dinheiro junto na minha vida! Faturava R$ 4 mil em um mês. Pagava o meu aluguel, minhas roupas, o cigarro, a bebida, e levava uma vida confortável. Mas vez ou outra eu tinha que segurar bandejas de cocaína para outras colegas usarem. Eu nunca, nunca tive coragem de experimentar drogas. Tinha muito cliente que pagava o programa só para eu ficar observando-o se drogar. Me sentia no inferno.

Mas encontrei um homem especial naquele ambiente. O Clayton, DJ da boate, não me abordou como um cliente. Galante, ele queria saber dos meus sentimentos e sonhos.

Me recusei a ir pra cama com ele nos primeiros encontros. Queria saber se era só sexo ou se ele me amava de verdade. Dançávamos, nos beijávamos, e ele me levava no ponto de ônibus todas as manhãs depois do último programa.

Transei com Clayton depois de um mês e meio. Foi a primeira noite de amor verdadeiro da minha vida. Ele se preocupou comigo, disse frases de amor no meu ouvido.

Percebi que ele era o homem da minha vida, com quem eu poderia realizar o sonho de construir uma família. Arrisquei engravidar. Depois de quase um ano tentando, aconteceu! Clayton comemorou e me aceitou como esposa. Resolvemos que eu sairia daquela vida.

Virei dona de casa

Me mudei para a casa do meu amor aos quatro meses de gestação. Ele me colocou contra a parede: me pressionava todos os dias para eu parar de beber e fumar. No começo fui rebelde, mas o amor me deu forças para superar os vícios. E eu, que tinha uma rotina cheia de festas, sexo, cigarro e bebida, passei a viver como uma dona de casa. Reaprendi o prazer das pequenas atividades do cotidiano: me arrumar para o meu marido, deixar a casa limpa, cuidar do enxoval do bebê.

É incrível se dar conta de que ser feliz é algo simples. Basta acordar antes das seis da manhã, tomar café, levar meu filho na escola, buscar, fazer o almoço, brincar com as crianças, ajudá-las no dever, limpar a casa, ir pra escola à noite, ficar com o Clayton...

Dois anos depois do meu primeiro filho, engravidei de uma menina. A casa ficou cheia de alegria com os dois! Nos tornamos uma família feliz. Mais que meu homem, o Clayton é meu amigo e confidente. Procuramos manter acesa a chama do nosso amor.

Quando quero sair para namorar com o Clayton, tenho que deixar as crianças na casa do meu pai... Me reconciliei com ele depois que saí da prostituição. Nos tornamos amigos como nunca: conversamos, ele me aconselha e é também um avô muito coruja.

Amo ser dona de casa e mãe de família, mas não quero só isso pra minha vida, não: voltei para a escola e tenho muitos planos para o meu futuro. Concluí o ensino médio que tinha abandonado quando fui fazer programa e estou fazendo um curso de telemarketing. Quero ganhar o meu dinheiro honestamente e ajudar a construir o futuro dos meus filhos.

Eu me orgulho da Letícia

Clayton Carvalho, 35 anos, o marido da Letícia

Dona da história: Letícia Ribeiro da Silva, 22 anos, dona de casa, Salvador, BA
Reportagem: Ricardo Régener

'Eu morria de ciúme da Letícia. Ela não era como as outras: tinha um jeito ingênuo e me deixava fascinado. Me apaixonei no dia em que a conheci e desejei assumir um compromisso. Levei Letícia pra morar comigo quando ela engravidou. Tenho a melhor esposa que eu poderia imaginar. Sou criticado e ouço piadinhas de colegas de trabalho. Tenho pavio curto e já xinguei muita gente por causa disso. Não gosto de quem fala mal dos outros, não cuida da própria família e não dá exemplo em casa. Amo a mulher que escolhi pra casar, assumo e tenho orgulho dela.''

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