crendices sexuais

01/11/2009 10:52

Crendices sexuais
Como os mitos e as crenças em torno do sexo influenciam o desenvolvimento e a manutenção das disfunções sexuais, causando prejuízo nas relações

Por Lelio M. Lourenço e Vanessa Vasques
 

SHUTTERSTOCKMitos e crenças sexuais ainda estão muito presentes em nossa sociedade, muito mais presentes do que supomos. Embora alguns deles já tenham se esclarecido, alguns resistem bravamente com o passar dos anos, apesar dos estudos e pesquisas demonstrarem que não passam de idéias e conceitos equivocados.

Segundo Furlani (2003), os mitos e as crenças sexuais existentes são reflexos de uma herança de permanente vigia da sociedade em relação à sexualidade individual e coletiva, tanto no espaço privado (do lar, da casa, da família), como nos espaços públicos (do trabalho, da rua, da mídia, da escola). Herdamos e construímos a cada dia um meio sócio-cultural que vigia a sexualidade alheia na tentativa de coagir as ações individuais e enquadrá- las nos modelos hegemônicos e "permitidos", inventando inúmeras representações sexuais por meio dos discursos. Vários autores relacionam o desenvolvimento e a manutenção das disfunções sexuais às crenças e aos mitos sexuais. Logo, é de extrema necessidade que esses mitos e crenças sejam constantemente questionados e que as informações cheguem à maior parte da população. Para Lourenço (1992), ganhando força de verdade indiscutível, as crenças sexuais fazem parte, em inúmeras situações, do repertório não só de pessoas pouco informadas, como também são aceitas por profissionais que mesmo atingindo um status elevado, não se livram de certo grau de ignorância sobre a sexualidade (Veja quadro Crendices comuns entre homens e mulheres). Esse desconhecimento a respeito da sexualidade humana apresenta-se em algumas situações profissionais que envolvem médicos, psicólogos e advogados, entre outros, que a partir de uma pequena curiosidade a respeito do assunto ou mesmo diante de um claro preconceito em relação ao tema, mostram fraco conhecimento e crenças errôneas sobre ele. Estudiosos da sexualidade humana consideram que os problemas relacionados à sexualidade são, muitas vezes, as causas de disfunções ou inadequações sexuais, uma vez que muitos profissionais são educados para ignorar ou pouco se informam a respeito do sexo.

Segundo Duran & Cristina (2005), vivemos em um mundo machista, ainda que a mulher venha se destacando na sociedade. Por exemplo, para o homem o rendimento sexual é valorizado e cabe a ele a responsabilidade do funcionamento eficiente; se isso não ocorre, ele se menospreza. A mulher é vista como aquela que deve satisfazer o homem, ser muito romântica e reprimir seus impulsos sexuais naturais. Como conseqüência a mulher não vê a si mesma como um ser sexuado e não se sente capaz de expressar- se sexualmente. Tudo isso vai gerando hostilidade, compulsividade e ansiedade que não permitem que se desfrute a sexualidade abertamente. Além disso, as diferenças educativas, ignorância sobre os próprios genitais e os do parceiro, assim como os mitos e os pensamentos errôneos, influenciam negativamente a atividade sexual. Muitos desses mitos e os pensamentos errôneos estão relacionados a uma educação em ambientes repressivos, com muitas proibições em relação à sexualidade, levando à identificação do sexo como algo sujo durante toda a vida.

Disfunções sexuais*

FOTOS: SHUTTERSTOCK

  • Ausência ou perda de desejo sexual, em que a diminuição ou perda do desejo sexual é o problema principal e não secundária a outras disfunções sexuais, como falha de ereção ou dor durante a relação sexual;
  • Falha de resposta genital, onde haveria a diminuição ou a ausência de vasocongestão e/ou lubrificação vaginal na mulher e no homem se caracterizaria por dificuldade de ter ou manter a ereção;

  • Disfunção orgásmica, que se caracterizaria por ausência ou retardo do orgasmo na mulher e ausência ou retardo da ejaculação no homem;
  • Ejaculação precoce, a qual estaria relacionada à dificuldade de controlar a ejaculação, antes ou logo após a penetração;

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  • Vaginismo, relacionado à contração involuntária da musculatura do terço inferior da vagina, tornando a penetração impossível ou extremamente dolorosa;
  • Dispareunia, caracterizada por dor durante a relação sexual e pode ocorrer com homens e mulheres;
  • Aversão sexual, onde a perspectiva de interação com o parceiro é associada a fortes sentimentos negativos e produz medo ou ansiedade suficientes para evitar a atividade sexual.

*Segundo o CID-10 (OMS, 1993)

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